Luís Miguel Cintra ao TNSJ

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Pílades, de Pier Paolo Pasolini, é a primeira estreia da nova temporada do Teatro Nacional São João (TNSJ)e estará em cena de 18 de setembro a 5 de outubro. O espetáculo marca o regresso de Luís Miguel Cintra e do Teatro da Cornucópia, da qual é fundador, ao Porto. Após a encenação de Íon, apresentada este ano, uma das companhias nacionais mais reputadas volta a abordar o ideário da democracia, revelando a atualidade da mensagem de um texto que assenta no teatro grego.

 

Apologista do “Teatro da Palavra”, Pasolini defende a reflexão política do teatro baseado no que é dito pelos atores, rompendo definitivamente com o teatro burguês, acessível a todos. O cineasta, poeta, escritor e intelectual italiano apontava a palavra como caminho para um teatro poético e dedicado a elites esclarecidas. “O teatro que Pasolini defende não é descritivo. Não serve para nos informar. Quer provocar”, refere Luís Miguel Cintra, um admirador assumido da obra de Pasolini.

 

Publicada em 1967, Pílades surge como uma alegoria, já que Pasolini examina a evolução da sociedade italiana contemporânea, estabelecendo uma relação com a Oresteia de Ésquilo. A peça começa com a queda do fascismo, representando Argos a Itália, depois da Segunda Guerra Mundial, à espera de um novo governo. Egisto e Clitemnestra foram mortos, tal como Mussolini foi assassinado e a monarquia italiana foi dissolvida. Orestes chega para trazer uma nova ordem e oferece a Argos a democracia, levando a cidade a prosperar com base no capitalismo, e apela à rejeição dos deuses em prol de Atena (deusa da razão). Já Pílades, defensor do irracional, quer representar

os que são privados dos seus direitos no sistema de Orestes. A revolução é o seu propósito, mas acaba derrotado e solitário, representando, no entanto, o simbolismo da resistência.