São 20 anos de carreira que tiveram início com “Esquissos”, o primeiro álbum dos Toranja, editado em março de 2003.
Nas comemorações destas duas décadas de carreira, o artista anuncia dois espetáculos muito especiais com a Orquestra Clássica do Centro: no dia 18 de dezembro na Casa da Música, no Porto e a 22 de dezembro no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, onde mantém a tradição do formato 360º que tem apresentado nos últimos anos.
Aqui fica o testemunho do artista:
Há 20 anos, por esta altura, ainda a acabar o meu curso de Arquitectura, já eu andava a aprender a arte da libertação através da música em palcos por todo o país. Os Toranja já tinham gravado a canção “Fome de Mais” – para uma coletânea de novas bandas em 2001 – e a hipótese de todo um mundo novo abria-se à minha frente.
Na minha cabeça, seriam apenas uns meses de divertimento, na minha cabeça a minha obrigação era ter uma profissão decente e segura como a Arquitectura. Ser músico naquela altura e no mundo onde eu vivia era um salto demasiado arriscado, demasiado fora da norma, como quem se atira sem asas para um precipício escuro. A verdade é que não me atirei… acho que fui descendo aos poucos, quase em segredo. O tempo foi passando e eu fui descendo, estudando a escarpa, centímetro a centímetro, aprendendo o equilíbrio do meu corpo e a força dos meus braços e pernas e mãos e dedos. Corrigindo os movimentos, escrevendo, cantando, observando, trabalhando o ofício. Pelo caminho fui percebendo a direcção, a minha direcção, sem boleias, sem atalhos, sem caminhos já antes percorridos. Tive bons exemplos para seguir sem os copiar, bons companheiros de viagem, bons conselheiros, bons amigos.
Passado todo este tempo acho que já cheguei a um chão, ou a algum socalco mais saliente e sólido onde consigo estar mais assente, de pé, e sorrindo. Mas há mais escarpa e o precipício é infinito. E embora me sinta ainda no princípio da descida, talvez possa olhar para cima, para o caminho percorrido e respirar de orgulho. Mais ainda, quando olho tenho plena noção de que esta descida ao precipício nunca foi um caminho solitário e que a força de um público que me tem vindo a acompanhar desde o princípio é inegável, insuperável, e a luz que me vai fazendo continuar. Pessoas que vêm, que vão, que voltam, ou que surgem todos os dias pela primeira vez. Caras antigas e novas sempre com um sorriso de incentivo, sempre pela música, pelas palavras, sempre por uma partilha misteriosa que nos une. E não vêm para saber de mim, vêm pela música. É o maior privilégio da minha vida perceber a maneira como o meu trabalho, cuja semente é tão íntima, secreta e egoísta, tem acompanhado a vida de tanta gente, e todos os dias me sinto agradecido pelos caminhos que as minhas palavras percorrem até ao interior de quem me ouve.
Dia 18 na Casa da Música do Porto e dia 22 no Coliseu dos Recreios em Lisboa vamos olhar para trás, com a ajuda da minha banda e da Orquestra Clássica do Centro, que por destino vem da minha terra natal: Coimbra. Vamos celebrar as músicas mais icónicas deste meu caminho, e relembrar também outras que possam ter ficado mais esquecidas.
Voltar ao Coliseu dos Recreios todos os Dezembros, em formato 360º, tem sido um dos maiores prazeres da minha carreira, e tenho levado muito a sério o desafio de me superar a cada concerto para que o público volte a encher a sala quase como tradição de Natal, com amigos e família, para contruirmos memórias juntos.
Voltar ao Porto, que amo, a uma sala tão icónica como o grande auditório da Casa da Música é sempre uma acrescida responsabilidade. Venho do Porto sempre comovido com o gigantesco abraço que sinto em cada concerto que dou naquela cidade e desta vez não será com certeza diferente.
Porto e Lisboa, espero-vos para estas celebrações.
Tiago Bettencourt