A palavra “apagão” foi eleita Palavra do Ano 2025 pela Porto Editora e pela Infopédia, numa iniciativa que há 17 anos capta a essência da vida coletiva dos portugueses através da linguagem.

Com 41,5% dos votos, o termo destacou-se como o mais representativo do ano, refletindo o impacto profundo que a falha generalizada no fornecimento elétrico teve na sociedade portuguesa, deixando milhões sem acesso a transportes, comunicações e serviços essenciais.
A escolha não foi apenas simbólica. O apagão que afetou várias regiões do país durante o verão de 2025 tornou-se um verdadeiro acontecimento nacional, paralisando cidades inteiras e revelando a dependência extrema da sociedade moderna em relação à energia e à tecnologia. A ausência repentina de eletricidade expôs fragilidades nas infraestruturas e na coordenação entre serviços, mas também criou um momento de pausa forçada, de reencontro e reflexão.
O voto e o significado por trás da palavra
Nesta edição, a Porto Editora e a Infopédia introduziram uma nova funcionalidade que permitiu aos votantes justificar a sua escolha. Essa novidade revelou-se essencial para compreender o peso simbólico da palavra “apagão”. Entre as justificações mais frequentes encontraram-se expressões como “acontecimento histórico”, “momento mais marcante do ano”, “lição de vida” e “possibilidade de desconectar”.
Muitos eleitores destacaram o apagão como um evento que expôs as vulnerabilidades do quotidiano moderno e que, paradoxalmente, ofereceu uma oportunidade rara para parar. Para alguns, a ausência de eletricidade trouxe silêncio, escuridão e desconforto; para outros, proporcionou tempo e introspeção. A experiência coletiva de estar sem energia tornou-se um retrato fiel de 2025, um ano marcado por incerteza, adaptação e redescoberta das prioridades humanas.

As palavras que completaram o pódio
No segundo lugar ficou “imigração”, com 22,2% dos votos, reforçando a relevância do tema nas discussões sociais e políticas do país. A palavra já tinha ocupado o terceiro lugar em 2024, a menos de um ponto percentual da vencedora “liberdade”. Em 2025, o debate sobre fluxos migratórios, integração e políticas de acolhimento voltou a marcar a atualidade, refletindo uma realidade europeia e global.
A terceira posição foi ocupada por “flotilha”, que reuniu 8% dos votos. O termo ganhou destaque ao longo do ano em diferentes contextos, desde questões de defesa marítima até operações de salvamento e eventos ligados à navegação. O resultado mostra a diversidade de assuntos que mobilizaram a opinião pública portuguesa em 2025.
O boletim de voto foi completado por outras sete palavras finalistas: “agente (IA)”, “fogos”, “eleições”, “perceção”, “elevador”, “tarefeiro” e “moderado”. Estas palavras refletem preocupações sociais, políticas e tecnológicas que definiram o ano, desde os avanços na inteligência artificial até às consequências dos incêndios florestais e às transformações no mercado de trabalho.
Um retrato linguístico da vida coletiva
A Palavra do Ano é mais do que uma simples curiosidade linguística. A iniciativa da Porto Editora e da Infopédia, criada em 2009, pretende destacar a riqueza e vitalidade da língua portuguesa, funcionando como um espelho da realidade. Ao longo de 17 edições, o projeto tem evidenciado a forma como as palavras evoluem e ganham novas dimensões conforme os acontecimentos, as emoções e as mudanças sociais do país.
A lista de dez finalistas resulta de um processo que combina as mais de 6500 sugestões enviadas pelos utilizadores em www.palavradoano.pt, as palavras mais pesquisadas no dicionário de língua portuguesa da Infopédia e um trabalho contínuo de observação linguística nos meios de comunicação e nas redes sociais. Este cruzamento de dados permite construir um retrato fiel da linguagem que molda o discurso público e privado em Portugal.

A memória das palavras que marcaram o país
Desde 2009, a Palavra do Ano tem vindo a documentar as grandes preocupações, emoções e acontecimentos que definem cada momento histórico. “Apagão” sucede a uma lista que inclui termos como “liberdade” (2024), “professor” (2023), “guerra” (2022), “vacina” (2021), “saudade” (2020), “violência doméstica” (2019), “enfermeiro” (2018) e “incêndios” (2017). Antes delas, Portugal já tinha escolhido palavras emblemáticas como “geringonça”, “refugiado”, “corrupção” ou “austeridade”, cada uma representando o espírito e os desafios de uma época.
Ao longo dos anos, esta iniciativa consolidou-se como um marco cultural e linguístico, acompanhando o ritmo das mudanças sociais e refletindo o pulsar coletivo do país. Em 2025, “apagão” entra nesta galeria de palavras memoráveis, não apenas como uma lembrança de um episódio de falha elétrica, mas como um símbolo do despertar de consciência sobre a dependência tecnológica e a necessidade de resiliência.
Uma palavra que acende reflexão
Mais do que uma ausência de luz, “apagão” iluminou a fragilidade e a força da sociedade portuguesa. A escolha desta palavra revela um desejo coletivo de compreender a vulnerabilidade e transformá-la em aprendizagem. O episódio que paralisou o país também o uniu, recordando a importância de uma infraestrutura sólida, de uma energia sustentável e de uma cidadania atenta.
Ao consagrar “apagão” como Palavra do Ano 2025, a Porto Editora e a Infopédia captaram o espírito de um tempo em que o inesperado forçou a pausa, e a pausa permitiu repensar o essencial. A iniciativa volta a provar que as palavras não apenas descrevem o mundo, mas também o transformam, dando forma à memória e à identidade coletiva.

















