Carminho lança “Eu Vou Morrer de Amor ou Resistir” e reafirma o seu domínio sobre o fado contemporâneo

Novo álbum da fadista portuguesa conta com a participação especial de Laurie Anderson e une tradição, feminismo e experimentação sonora

 

 

Carminho volta a surpreender o público e a crítica com o lançamento do seu sétimo álbum de estúdio, “Eu Vou Morrer de Amor ou Resistir”, que chega esta sexta-feira, 10 de outubro, às principais plataformas de streaming, além de ser editado em vinil e CD pela Sony Music Portugal. Produzido pela própria artista e gravado em Lisboa, o disco reafirma o lugar de Carminho como uma das vozes mais inovadoras e influentes do fado contemporâneo, cruzando tradição, poesia e experimentação.

Desde o início da sua carreira, Carminho tem-se destacado pela autenticidade e pela coragem artística. Neste novo trabalho, a fadista assina oito das onze faixas e mergulha fundo nas contradições da alma humana. O título do álbum, “Eu Vou Morrer de Amor ou Resistir”, sintetiza bem o tema central da obra: o amor como força vital, mas também como campo de resistência. “Morre-se muito de amor no fado, mas poder resistir é algo que me interessa e me interessa cantar”, explica a artista.

Um fado feminista e contemporâneo

O novo álbum de Carminho não é apenas uma celebração do fado, mas também uma declaração de autonomia feminina. A cantora explora o papel da mulher não só como intérprete, mas como criadora, questionando e reinventando as narrativas tradicionais do género. “Fui muito inspirada pela mulher, pela ideia de que ela ocupa um lugar central no fado, mas que existem muitas narrativas paralelas, mesmo ambíguas, dentro da própria mulher”, afirma.

Essa visão é reforçada na estética sonora do disco, que combina guitarras portuguesas, vozes processadas por vocoder e arranjos eletrónicos subtis, criando uma paisagem musical moderna sem perder a essência emocional do fado. É, portanto, um álbum que dialoga entre o passado e o futuro, entre a tradição e a vanguarda, entre o amor e a resistência.

Laurie Anderson e a poesia de Ana Hatherly

Um dos momentos mais marcantes do disco é a faixa “Saber”, que conta com a participação especial da lendária artista norte-americana Laurie Anderson — referência mundial na música experimental e na arte multimédia. Na canção, Anderson empresta a sua voz suave e etérea, sussurrando versos em inglês que contrastam com o timbre intenso de Carminho. O resultado é uma peça sonora de rara beleza, onde duas linguagens artísticas se cruzam com naturalidade.

A letra de “Saber” é inspirada num poema da escritora e artista plástica Ana Hatherly (1929–2015), uma das figuras mais importantes da poesia experimental portuguesa. “Saber / é saber saber-te / Sabermo-nos unir / unirmo-nos é conhecermo-nos / sabermos ser / Por fim sermos / é sabermos”, diz o texto original — versos que Carminho transforma em música com delicadeza e profundidade.

Ana Hatherly é também autora do poema que abre o álbum, “Balada do País que Dói”, musicado por Carminho. A canção reflete sobre a identidade e a dor coletiva portuguesa, com versos que evocam o tempo, o destino e a condição humana: “O barco vai, o barco vem / português vai, português vem / O país cai, o país dói / O tempo vai / o tempo dói”. O arranjo combina guitarra portuguesa e elétrica, mellotron e viola de fado, resultando num ambiente melancólico e ao mesmo tempo luminoso.

Raízes no fado, olhos no futuro

Ao longo das onze faixas, Carminho homenageia as raízes do fado tradicional e as suas grandes referências musicais. A artista cita influências como Raúl Nery e Martinho d’Assunção, mestres das guitarras portuguesas, e também Maria Teresa de Noronha, Beatriz da Conceição e Teresa Siqueira, sua mãe e uma das mais respeitadas vozes do género.

Mas há também espaço para inspirações vindas de fora do universo do fado. Carminho menciona Wendy Carlos e Annette Peacock, pioneiras da música eletrónica nos anos 1960, como influências essenciais para a construção do som deste álbum — um fado eletrónico, íntimo e ousado, que desafia fronteiras sem perder autenticidade.

Carminho: uma artista que redefine o fado

Com “Eu Vou Morrer de Amor ou Resistir”, Carminho confirma o seu estatuto como uma das artistas mais completas da música portuguesa atual. A sua capacidade de unir o tradicional e o experimental faz dela uma das grandes renovadoras do fado. O novo disco não apenas reforça o seu domínio sobre o género, mas também amplia o seu alcance internacional, graças à colaboração com Laurie Anderson e à força poética das letras.

O álbum é uma viagem emocional e estética que propõe ao ouvinte uma reflexão profunda sobre amor, resistência, tempo e identidade. É um trabalho maduro, ousado e necessário — que consolida Carminho como a voz do fado contemporâneo, uma artista que honra a tradição sem deixar de reinventá-la.

Ficha técnica e lançamento

  • Álbum: Eu Vou Morrer de Amor ou Resistir

  • Artista: Carminho

  • Produção: Carminho

  • Gravado em: Lisboa

  • Editora: Sony Music Portugal

  • Lançamento: 10 de outubro de 2025

  • Formatos: CD, Vinil e Streaming