No Dia Mundial da Música, celebrado a 1 de outubro, o destaque vai para as vozes que estão a construir o futuro da cultura em Portugal. Entre elas está Diogo Silva, 22 anos, natural de São Miguel, estudante de Produção Musical e entusiasta das artes.
Numa conversa franca, o jovem açoriano partilha a sua visão sobre o estado atual da música nos Açores, o impacto dos eventos e festivais locais, a relação com outras áreas culturais como o cinema e o vídeo, e a importância de criar oportunidades para os jovens talentos do arquipélago.
Hoje assinalamos o Dia Mundial da Música. O que significa esta data para si, enquanto jovem dos Açores ligado ao universo cultural?
Diogo Silva : Para mim, o Dia Mundial da Música é mais do que uma celebração simbólica. É um momento de reflexão sobre o impacto que a música tem na vida das pessoas e na identidade de um povo. Nos Açores, a música sempre foi uma parte essencial da nossa cultura, desde as filarmónicas e ranchos folclóricos até às novas bandas que exploram sonoridades contemporâneas. Celebrar esta data é também dar voz a quem, nas ilhas, trabalha diariamente para manter viva a tradição e, ao mesmo tempo, reinventá-la.
Como descreve o atual panorama musical nos Açores?
É um panorama muito rico, mas ainda pouco visível no contexto nacional. Temos uma enorme tradição musical, sobretudo ligada às bandas filarmónicas, que continuam a ser escolas vivas de formação para muitos jovens músicos. Mas também há uma nova geração que aposta em estilos diferentes — do rock alternativo ao hip hop, passando pela música eletrónica e pelo jazz. O desafio é dar espaço e condições para que esses projetos cresçam. Falta ainda maior divulgação e apoio para que a música feita nos Açores possa ser conhecida fora das ilhas.
Os Açores têm ganho destaque com alguns festivais. Qual é o papel destes eventos na dinamização cultural?
Os festivais são fundamentais. Eventos como o Maré de Agosto, Angrajazz ou Tremor provaram que é possível trazer artistas internacionais de grande nome e, ao mesmo tempo, dar palco a talentos locais. Estes festivais não são apenas concertos, são experiências culturais completas que atraem público de fora e dinamizam a economia regional. Para os jovens músicos, subir a um palco de festival é uma oportunidade única de mostrar o seu trabalho e aprender com artistas de outras realidades. No entanto, é importante que não fiquemos só pelos grandes nomes internacionais — é preciso garantir que os músicos açorianos também têm sempre espaço nestes eventos.
E em relação ao futuro, como vê a música e a cultura nos Açores?
Vejo com esperança, mas também com consciência dos desafios. Temos talento, temos criatividade, mas precisamos de mais investimento em infraestruturas culturais e em programas de apoio aos artistas emergentes. Acredito que o futuro passa por criar redes de colaboração entre ilhas, e também entre os Açores e o continente, para que haja maior circulação de músicos e projetos. Vejo cada vez mais jovens a gravar discos, a lançar músicas em plataformas digitais e a usar as redes sociais para divulgar o seu trabalho. Isso é sinal de que existe uma nova dinâmica, mas é essencial que haja estruturas locais a acompanhar e apoiar.
A música açoriana cruza-se muitas vezes com outras artes. Qual é a importância do cinema e do vídeo neste processo?
O cinema e o vídeo são hoje ferramentas fundamentais para a música. Nos Açores, vejo muitos jovens que não só tocam e compõem, mas também produzem os seus próprios videoclipes, documentários e conteúdos digitais. Isso é incrível, porque mostra uma visão artística integrada. Projetos audiovisuais ajudam a contar histórias e a levar a música açoriana mais longe. Já não basta só gravar uma música — hoje, a imagem e o vídeo são parte do processo de comunicação. Além disso, festivais de cinema que incluem música nas suas programações ajudam a criar pontes entre diferentes formas de expressão artística.
Que mensagem gostaria de deixar neste Dia Mundial da Música para os jovens açorianos que querem seguir carreira artística?
Diria que não tenham medo de arriscar. É fácil sentir que, estando numa ilha, o mundo está longe, mas na verdade a música aproxima-nos de tudo e de todos. Com a internet, podemos partilhar o nosso trabalho globalmente, mas é essencial nunca esquecer as nossas raízes. A música açoriana tem uma identidade própria, uma mistura de influências atlânticas que a tornam única. Aos jovens, digo que valorizem essa identidade e que a usem como ponto de partida para criar algo novo. E, acima de tudo, que nunca desistam — porque cada voz conta para construir o futuro cultural dos Açores.
No Dia Mundial da Música, a perspetiva de Diogo Silva representa a força de uma geração que, a partir dos Açores, quer deixar a sua marca no panorama cultural. Entre desafios e oportunidades, a música, o cinema e o vídeo estão a abrir novos caminhos para os jovens artistas do arquipélago.
Seja através de festivais internacionais que já fazem parte do calendário dos Açores, seja na criação de projetos independentes que cruzam diferentes formas de arte, a música continua a ser um motor de identidade e inovação. O futuro, segundo a visão desta nova geração, passa por mais apoios, mais visibilidade e mais colaboração — sempre com a consciência de que a música é, acima de tudo, um espaço de encontro e celebração.