Com “O Rival”, Bruno Celta inicia um novo ciclo artístico, onde a emoção, a estética e o simbolismo visual se unem num projeto profundamente pessoal. Artista, produtor e realizador, fala-nos sobre o processo criativo, a identidade Emo Rock e os caminhos futuros da sua carreira.

 

O UNIVERSO DE “O RIVAL”

“O Rival” é uma canção emocionalmente intensa. O que representa para ti, a nível pessoal e artístico?
Foi o primeiro single do álbum e marcou simbolicamente o início do meu percurso a solo. O pessoal e o artístico confundem-se aqui. Representa as minhas batalhas internas, as dúvidas naturais de um artista e os demónios que tantas vezes tomam o controlo. Ainda assim, continuo sempre a lutar para ser a melhor versão de mim.

O videoclipe tem uma linguagem simbólica muito vincada. Como nasceu a ideia de transformar o tema num pequeno filme?
Sempre que vou filmar para uma música, a história começa a formar-se de imediato. Crio rapidamente o storyboard com os planos essenciais. Em “O Rival”, quis homenagear o estilo visual que mais me marca: o Emo.
Ao mesmo tempo, queria evitar que o vídeo se tornasse monótono, já que o álbum foi todo gravado por mim. Assim nasceu “A Morte e os Sem Cara”, a banda fictícia que me permite tocar e cantar sem mostrar o rosto. O foco mantém-se na música.
O cenário escolhido reforça essa intenção: um lugar longínquo, isolado, que representa a distância necessária para criar.

Que sensações queres que o público absorva do vídeo?
Quero que sintam. Que se deixem levar. Não imponho mensagens; prefiro que cada pessoa retire o que fizer sentido naquele momento.

Realizaste novamente o teu próprio videoclipe. É difícil conciliar músico e realizador?
Não. Este é o meu terceiro vídeo e gosto muito de realizar, sobretudo quando o tema é meu. A visão já existe. As duas artes completam-se.

Há algum detalhe visual que possas revelar?
Sim. A “Caveira” que aparece na minha mão é um elemento recorrente. Surge em “O Rival”, em “Atira-me ao Chão” e no vídeo de MARLA que estou a realizar. É o meu pequeno “easter egg” entre projetos.

CRIAÇÃO, PRODUÇÃO E EQUIPA

O vídeo contou com a Silver Fox Management e com Tatiana Santos e Sid Saint. Como foi trabalhar com esta equipa?
São a minha equipa de sempre, juntamente com o Peter Strange. Criativos, talentosos e incansáveis. Sabem exatamente o que quero e ajudam-me a materializar a visão que trago na cabeça.

Misturar as tuas músicas é já habitual. O que te leva a manter esse controlo criativo?
Adoro produzir e misturar. Para mim é arte pura: é o momento em que a canção ganha forma real e onde decido o caminho emocional.
Por outro lado, quero controlar a estética e a qualidade sonora. Depois de trabalhar com vários produtores, percebi que o meu percurso tem de ser feito por mim. Em “A Catarse Não é o Fim” tomei essa decisão de forma definitiva.
Conto sempre com o apoio do grande Rui Dias, dos Estúdios Mister Master, que me orienta nas questões mais técnicas.

A masterização ficou a cargo de Rui Dias. O que procuraste nesta fase?
Profissionalismo, potência sonora e preservação da dinâmica. O Rui entregou exatamente isso. Sabe ler a minha visão e transforma-a num resultado final sólido, coeso e pronto para qualquer playlist de rádio.

Há algo na produção de “O Rival” que queiras destacar?
Em termos de equipamento, nada de novo. Em termos de técnica, o final da música foi um desafio: várias camadas vocais e guitarras em crescendo, todas a pedir espaço. Consegui equilibrá-las sem que nenhuma se sobrepusesse. É a mistura de que mais me orgulho.

O ESTILO E A IDENTIDADE

És apontado como o único artista de Emo Rock em Portugal. Como vives essa responsabilidade?
Com orgulho. É um género versátil: tanto pode ser pesado como delicado. As letras são pessoais, honestas, com um lado teatral que potencia a estética visual. É perfeito para unir música, vídeo e fotografia.

O Emo está a renascer internacionalmente. Há espaço para crescer em Portugal?
Acredito que sim. O Baile Emo, que esgota sempre, é um sinal claro disso. Não é um estilo saturado e tem espaço para se destacar pela novidade melódica e pela criatividade visual.

A tua estética mistura vulnerabilidade e força. Como equilibrares esses contrastes?
Através do paradoxo. Gosto da dualidade que, mesmo contraditória, faz sentido. É algo muito humano. O equilíbrio surge naturalmente: é encontrar o belo no feio.

Que temas mais te inspiram neste momento?
As relações humanas e as lutas interiores. Tudo o que me toca pode tornar-se poesia com a frase certa.

VISÃO ARTÍSTICA E FUTURO

“O Rival” marca uma nova fase? O que vem a seguir?
Marca sobretudo uma mudança visual. Quero explorar esta estética ao vivo, talvez com led walls e elementos cénicos.
Nos próximos meses vou preparar a tour 2026 e fechar o ciclo “A Catarse Não é o Fim”.

Há novo EP ou álbum a caminho?
Sim, um novo álbum. Quero começar a gravar no último trimestre de 2026.

Como imaginas a tua música nos próximos anos?
Mais pesada. Sempre detalhada e dinâmica, mas com uma linha cinematográfica ainda mais marcada.

Qual é hoje o papel do digital no crescimento de um artista independente?
Ajuda na divulgação, mas nada substitui o impacto do espetáculo ao vivo. É no palco que nasce a verdadeira ligação.
O digital é volátil: segue-se e deixa-se de seguir num instante. Ao vivo, cria-se memória e empatia.

Que mensagem deixas aos fãs que se identificam com o teu universo?
Gratidão. É uma honra fazer parte da banda sonora da vida de cada um.

Descreve “O Rival” numa palavra.
Vitória.

Qual é a maior rivalidade que um artista enfrenta?
Uma combinação entre ele próprio, a indústria e o silêncio. A adversidade é essencial ao crescimento. Abraço-a sempre, e depois deixo-a ir… até voltar a encontrá-la.