No seu novo álbum, “Muxima”, Lindu Mona regressa às origens para revisitar o que o move como artista e ser humano. O título, palavra em quimbundo que significa “coração”, é o eixo de um trabalho que funde o ancestral e o contemporâneo, o espiritual e o terreno, o som e a imagem. Em pouco mais de 26 minutos, o artista angolano oferece um manifesto artístico e identitário que transcende géneros, atravessando tempos, culturas e emoções.

 

 

O significado de “Muxima”: o coração como alma ancestral

Para Lindu Mona, o coração de “Muxima” é mais do que um símbolo emocional. “Este coração simboliza a minha alma, a entidade que atravessa os tempos transportando toda uma cultura e o saber ancestral que está gravado em mim”, explica o músico. Este é, portanto, um projeto que se ergue como ponte entre o passado e o futuro, entre a espiritualidade africana e a modernidade sonora.

A palavra “Muxima” é também o nome de uma comuna angolana com uma profunda ligação espiritual. É desse território simbólico que Lindu Mona parte para refletir sobre identidade, pertença e transcendência. Cada faixa é uma pulsação desse coração coletivo, um eco da alma que habita a música.

Sete singles, um mesmo fio condutor

Antes do lançamento do álbum, Lindu Mona apresentou sete singles com visualizers, criando uma teia audiovisual que agora ganha unidade em “Muxima”. O maior desafio, conta o artista, foi reunir todas as faixas sob uma mesma emoção: “Houve uma linha narrativa emocional que foi a universalidade de cada tema.”

Esse fio condutor faz de “Muxima” um álbum coerente e sensorial, onde cada canção se encaixa como parte de um mosaico que fala sobre humanidade e ancestralidade.

A fusão entre o ancestral e o contemporâneo

“Muxima” é descrito como uma fusão entre tradição angolana e música eletrónica moderna. Lindu Mona revela que o equilíbrio entre esses dois mundos surgiu naturalmente: “Não houve problema nenhum dado que pusemos a eletrónica ao serviço do desejo do ser humano.”

Essa abordagem transforma o disco num espaço de diálogo entre percussões tradicionais e beats sintéticos, entre melodias de raiz e texturas urbanas. O resultado é uma sonoridade orgânica, onde o digital não apaga a tradição, mas a amplifica.

A cumplicidade de uma equipa com história

A produção ficou a cargo da Zoomusica e do DJ N.K. (Pedro Cardoso), colaboração que vem desde o álbum anterior, “Kalunga”. “Para além da amizade que nos une, associamos o amor que temos às culturas angolanas e afro-brasileiras, bem como o gosto pelas batidas modernas e pelos sons da eletrónica”, partilha Lindu Mona.

Essa cumplicidade estende-se aos músicos Ritta Tristany, Jorge Silva e Vítor Carvalho, parceiros de longa data. “É bom trabalhar com pessoas que compreendem o meu universo musical e espiritual. Já nos conhecemos e isso facilita os processos criativos”, afirma. Ao mesmo tempo, o artista valoriza a necessidade de se reinventar: “Tentamos ultrapassar a habituação com abertura de espírito, evolução musical e espiritual.”

A força da imagem e da forma

O conceito visual de “Muxima” é outro ponto de destaque. Com design de Alberto Kintas e artwork de Lindu Mona e Firmino Pascoal, o álbum é concebido como uma experiência tridimensional. “A cor e a forma completam o som e dão-nos uma imagem a três dimensões do que queremos mostrar ao público”, explica o cantor.

O formato “Livro/Disco” reforça essa intenção. Para Lindu Mona, “é um livro porque queremos dar mais destaque ao artwork, ao design e à poesia do que aquele que os livros do CD normalmente oferecem”. O resultado é uma obra híbrida, onde o som, a imagem e a palavra coexistem em harmonia.

“Muxima” ao vivo: música, pintura e gastronomia

O lançamento ao vivo acontecerá no Chá da Barra Villa, em Oeiras. “O público poderá ouvir os meus dois últimos álbuns, ‘Kalunga’ e ‘Muxima’, em qualidade de disco, com performance de Vítor Carvalho na guitarra elétrica, Jorge Silva nas teclas, Ritta Tristany nas vozes e eu próprio, Lindu Mona, na voz e guitarra acústica.”

A experiência promete ser imersiva, combinando música, artes visuais e gastronomia afro-brasileira. “Será um ambiente envolto nas cores de uma exposição de quadros e numa gastronomia adequada à cena afro-brasileira”, adianta o artista.

Um novo começo na trajetória de Lindu Mona

Desde “Rosa Afra” até “Kalunga”, Lindu Mona tem mostrado uma evolução constante. “Muxima” representa, segundo o músico, “um novo começo e um ponto de partida para outros pontos de chegada”.

Essa visão é também alimentada pela sua experiência como criador do Festival Musidanças, que celebra o encontro entre culturas. “A evolução está na mistura”, resume. É dessa mistura que nasce a força transformadora da sua arte.

Angola e o mundo: o som de um princípio sem fim

Num tempo em que as fronteiras culturais se esbatem, Lindu Mona acredita no papel da música angolana como parte essencial da cena global. “Da mesma forma que acredito que não há um fim sem um princípio, nem um princípio sem um fim”, reflete.

“Muxima” é, assim, um ciclo que se renova: o regresso às origens que abre caminho ao futuro.

Uma mensagem do coração

“Muxima é o meu novo álbum, um trabalho que nasce do desejo de regressar ao coração, à minha alma matriz”, afirma Lindu Mona. “Para mim, Muxima não é apenas um espaço, é também uma memória viva, uma comuna angolana marcada por espiritualidade, história e emoção. Neste disco, deixei que a minha ancestralidade dialogasse com o presente, unindo a música urbana do meu país à eletrónica contemporânea.”

Com sete faixas que exploram diferentes camadas desse regresso ao essencial, “Muxima” é a celebração do que faz o coração pulsar. Um tributo à música de raiz angolana, à cultura viva de um povo e à alma de um artista que continua a criar pontes entre tempos, sons e mundos.