Há artistas que não cabem em caixinhas. Mariana Guimarães é uma delas. Cantora, compositora, autora e dançante, nascida em Lisboa, crescida na linha de Cascais e pelo mundo, escolheu o campo como casa há oito anos — não como fuga, mas como encontro. Da quietude da natureza, brotam-lhe canções que são janelas abertas para dentro da alma.
Vinda de uma família de artistas, desde cedo se habituou ao palco invisível da criação. Tocava piano clássico aos três anos, explorava improvisações de jazz na adolescência, cantava em coros e fazia da Culturgest e do CCB quase uma segunda morada. Levava consigo a escrita, a dança, o teatro, a performance — sempre como quem busca não apenas expressar, mas despertar.
Essa busca pelo humano levou-a a formar-se em Antropologia e a trabalhar em projetos sociais durante sete anos. A arte, no entanto, foi sempre o fio condutor, que acabou por se tornar destino. Em 2016, fundou o projeto NÓS VOZ, explorando canções meditativas e interativas que abriram portas para novas colaborações. Vieram festivais, oficinas, atuações internacionais, e um primeiro espetáculo a solo em 2018: Do Mar para a Terra, título que parecia já anunciar a sua essência, entre o enraizamento e o voo.
Foi em 2021 que Mariana se revelou em nome próprio com o single Bora, seguido de Casa, em 2022. O passo seguinte seria inevitável: um álbum. E assim nasceu Alguém me leve (2023), disco produzido por João Só, John Jesus e Manel Ferreira. Um trabalho plural, que mistura pop com fado, música tradicional com ecos do mundo. Mais do que um alinhamento de canções, é uma viagem interior, um convite a atravessar gavetas da alma que afinal são portas.
O disco levou-a à Casa da Música, ao Teatro Ibérico, a palcos grandes e intimistas, sempre com a mesma entrega: a de transformar o público em cúmplice. “Cheira a campo”, disse-lhe Jorge Afonso na Antena 1. Talvez porque a sua música, mesmo nas salas da cidade, guarda a simplicidade da terra.
Em 2024, Mariana entregou-se à criação do segundo álbum. Ao mesmo tempo, mergulhou em colaborações, como no espetáculo E se fizéssemos tudo outra vez, de Madalena Victorino e Giacomo Scalisi, onde música e dança se encontraram na paisagem algarvia. Mas é em 2025 que a sua nova fase ganha forma. O disco vai sendo revelado mês a mês, single a single, até ao outono. Um ritual partilhado com os ouvintes, quase como uma conversa continuada.
E há já uma canção que se destaca: Quarta-feira, lançada em abril, tornou-se fenómeno. Gente de todas as idades grava vídeos a dançar, Mariana responde levando a música às ruas, aos Santos Populares, às festas de verão. A artista que cresceu entre palcos formais descobre agora no improviso da rua a sua grande sala de concertos.
O novo álbum fala de amor, de transformação, de empoderamento. Mas, acima de tudo, fala de vida. É um projeto que recusa limites, que cruza música, dança, palavra e teatro, e que promete culminar num espetáculo que será mais experiência do que concerto, com artistas convidados e comunidades locais.
Mariana Guimarães não canta apenas para ser ouvida. Canta para ser sentida. Para que cada pessoa, ao escutá-la, descubra dentro de si a possibilidade de dançar a própria vida.