Nite Chimp lança videoclipe de “Black Mold’s Back” em colaboração com Maria João Bilro e apresenta novo EP Mold Scare

O cenário musical lisboeta acaba de ganhar um novo destaque com o lançamento do videoclipe oficial de “Black Mold’s Back”, tema da banda Nite Chimp que integra o mais recente EP Mold Scare. O vídeo, realizado pela cineasta e artista visual portuguesa Maria João Bilro, mergulha na essência crua e contraditória de Lisboa, trazendo uma leitura estética que dialoga diretamente com a proposta musical do grupo.

 

A estreia do videoclipe coincide com um marco importante para a banda: a apresentação ao vivo do novo EP, que acontece no próximo sábado, 27 de setembro, na Casa do Comum, em Lisboa. Os bilhetes já estão disponíveis, e a expectativa é de casa cheia para um concerto que promete unir energia, irreverência e reflexão social.

O videoclipe de “Black Mold’s Back”: Lisboa como palco e personagem

Filmado e editado por Maria João Bilro, o videoclipe de Black Mold’s Back funciona como uma carta de amor e ódio à Lisboa contemporânea. As imagens mostram a cidade de forma despida de adornos turísticos, explorando o caos, a dureza e as contradições que marcam o dia a dia dos seus habitantes.

Ainda assim, entre ruas, becos e símbolos urbanos, Lisboa surge com aquele charme intemporal que a torna única. O olhar artístico de Bilro não apenas documenta, mas interpreta a cidade, transformando-a em metáfora de um mundo globalizado, onde convivem tensões sociopolíticas, linhas difusas e uma constante sensação de conflito interno.

Em sintonia com a canção, até o “mofo” — metáfora do título — encontra espaço como elemento visual e conceitual. O resultado é um trabalho que se afasta do convencional, ao mesmo tempo cru e poético, refletindo os dilemas e belezas de uma capital que respira história e transformação.

Maria João Bilro: a artista por trás da lente

Para dar vida ao videoclipe, os Nite Chimp confiaram em Maria João Bilro, cineasta e artista visual com trajetória marcada pela exploração das contradições urbanas e pela busca de uma estética autêntica.

O seu trabalho capta Lisboa como um espelho de Portugal e do mundo, com todas as suas ambiguidades. Bilro constrói narrativas visuais que não se limitam ao estético, mas que dialogam com questões sociais, políticas e existenciais. Essa abordagem encaixa-se perfeitamente no espírito da banda, que utiliza a música como espaço de experimentação sonora e de crítica cultural.

Nite Chimp: da Hungria a Lisboa, um percurso singular

Conhecer o videoclipe de Black Mold’s Back é também mergulhar na história dos Nite Chimp, uma banda que nasceu de forma improvável e se consolidou como uma das propostas mais originais do surf-garage rock português.

O projeto teve início em 2020, quando Csaba Simon, músico húngaro, começou a criar músicas a solo durante os meses de isolamento da pandemia. Inspirado pela cultura DIY (do it yourself), gravava faixas no quarto, em Pécs, Hungria, afinando sua identidade musical num período marcado pelo isolamento e introspeção.

Em 2022, lançou o EP de estreia Panel Hoopla, seguido do primeiro álbum “Done Depot” em 2023. Já em 2024, os singles Beach Country e Morning Routine mostraram um som cada vez mais maduro e experimental.

O passo seguinte foi Lisboa: Simon encontrou na cidade não só uma nova casa, mas também uma fonte de inspiração cultural e musical. Foi na capital portuguesa que o projeto ganhou formato de banda, transformando-se em Nite Chimp tal como é hoje, uma fusão de referências húngaras, portuguesas e britânicas.

Influências musicais: de Gorillaz a Bo Diddley

O som dos Nite Chimp é uma mistura vibrante de referências. A banda bebe da energia de nomes como Thee Oh Sees, Wavves e The White Stripes, mas não esconde a inspiração nos Beach Boys e no groove atemporal de Bo Diddley.

Um detalhe curioso é a ligação indireta com os Gorillaz. Csaba Simon chegou a candidatar-se para tocar xilofone na banda de Damon Albarn, mas foi rejeitado. O episódio acabou por servir de combustível criativo, sendo também inspiração para o nome Nite Chimp, que brinca com a ideia de uma ligação primata com os Gorillaz.

Mold Scare: o novo EP dos Nite Chimp

Lançado em 2025, o EP Mold Scare é composto por cinco faixas que exploram a identidade híbrida da banda, tanto na sonoridade como nas letras.

Cada canção é um retrato fragmentado da contemporaneidade, alternando entre energia elétrica e introspeção. Há faixas de surf rock inspiradas na Costa da Caparica que falam sobre solidão, hinos cínicos que ironizam as rotinas quotidianas e músicas mais densas que abordam temas urgentes como a crise climática, o extremismo político e as desigualdades do capitalismo global.

O EP é marcado pela diversidade instrumental: guitarras elétricas, bongos, marimba e pandeireta unem-se numa linguagem musical rica e imprevisível, que traduz a versatilidade criativa da banda.

“Black Mold’s Back”: a canção que dá corpo ao videoclipe

Entre as faixas de Mold Scare, Black Mold’s Back ocupa um lugar especial. A canção é visceral, direta e carregada de ironia, refletindo sobre os ciclos de degradação e renovação da sociedade. O “mofo” do título funciona como metáfora para os males que insistem em regressar, sejam eles sociais, políticos ou pessoais.

O videoclipe, ao transportar essa ideia para Lisboa, amplia o alcance da mensagem: uma cidade que oscila entre tradição e modernidade, beleza e desgaste, ordem e caos.

Lisboa como inspiração musical e cultural

A presença de Lisboa na trajetória dos Nite Chimp não se limita ao videoclipe. A cidade é palco e musa para o grupo, que nela encontra uma energia única, alimentada tanto pela diversidade cultural como pela efervescência artística.

A capital portuguesa tornou-se um laboratório criativo para Csaba Simon e os Nite Chimp, permitindo que o projeto evoluísse de uma aventura a solo para uma banda de identidade coletiva e multicultural.

Concerto de apresentação na Casa do Comum

O lançamento do videoclipe e do EP será celebrado em grande estilo no concerto marcado para 27 de setembro, na Casa do Comum. O espaço, conhecido por acolher projetos inovadores e emergentes da cena lisboeta, promete ser o cenário ideal para a estreia de Mold Scare.

A atuação ao vivo será uma oportunidade para o público experimentar a energia contagiante dos Nite Chimp, marcada por guitarras frenéticas, ritmos imprevisíveis e uma presença de palco que combina intensidade e autenticidade.

Nite Chimp no panorama musical português

Ainda que relativamente recente, a presença dos Nite Chimp em Portugal é já significativa. A banda insere-se numa cena musical que valoriza a experimentação e a fusão de estilos, dialogando com outras propostas independentes que têm vindo a redefinir o rock alternativo em Lisboa.

Com influências internacionais, mas enraizados na vivência lisboeta, os Nite Chimp são hoje um símbolo do cosmopolitismo musical português, demonstrando que a capital continua a ser um ponto de encontro de culturas e sonoridades.

 Nite Chimp, entre caos, surf e crítica social

O lançamento do videoclipe “Black Mold’s Back”, em colaboração com Maria João Bilro, confirma os Nite Chimp como uma das bandas mais ousadas e relevantes do momento. O vídeo não é apenas um complemento visual, mas sim uma extensão artística da música, onde Lisboa surge como protagonista de uma narrativa que mistura crítica, poesia e autenticidade.

Com o novo EP Mold Scare, a banda reafirma a sua identidade híbrida, marcada por influências múltiplas, mas com uma voz própria e inconfundível. Do quarto em Pécs às ruas de Lisboa, os Nite Chimp trilham um percurso singular, provando que o rock continua a ser um espaço de liberdade criativa e reflexão social.