Tony Allen no Museu de Leiria: O Legado do Mestre do Afrobeat em Exposição

Entre os dias 4 de outubro e 30 de novembro de 2025, a Sala do Capítulo do Museu de Leiria abre as suas portas para homenagear uma das figuras mais revolucionárias da história da música: Tony Allen (1940–2020). Depois das exposições dedicadas a Raymond Scott e Delia Derbyshire, esta mostra marca o terceiro capítulo de um ciclo que celebra músicos visionários que transformaram a paisagem sonora mundial.

 

Mais do que uma simples retrospectiva, a exposição dedicada a Tony Allen convida o público a mergulhar na energia, criatividade e inovação rítmica do baterista nigeriano que redefiniu a bateria e deu forma ao Afrobeat, em parceria com o lendário Fela Kuti.

 

Quem foi Tony Allen?

Nascido em Lagos, Nigéria, em 1940, Tony Oladipo Allen começou a tocar bateria de forma autodidata, inspirado por ritmos tradicionais iorubás, jazz norte-americano e funk. Diferente de muitos bateristas da sua época, Allen não se limitou a reproduzir estilos já estabelecidos: ele inventava novos padrões rítmicos, quebrava convenções e misturava tradições musicais africanas com influências modernas.

Quando se juntou a Fela Kuti, nos anos 1960, a parceria entre os dois foi explosiva. O resultado foi o nascimento do Afrobeat, um género que fundia o jazz, o funk, a soul e a música tradicional africana numa sonoridade única, carregada de groove, consciência política e energia comunitária.

Fela Kuti chegou a afirmar:
“Sem Tony Allen, não haveria Afrobeat.”

E essa frase resume a importância deste baterista: Allen não foi apenas acompanhante ou membro de uma banda — ele foi o pilar rítmico que deu corpo e identidade a um género musical que ecoa até hoje em palcos de todo o mundo.

O Legado Musical de Tony Allen

Tony Allen é reconhecido como um dos bateristas mais inovadores e influentes da história. A sua técnica única combinava precisão, improvisação e uma profunda ligação espiritual com o ritmo.

Entre os principais pontos do seu legado, destacam-se:

  1. Reinvenção da bateria – Ao contrário do que se via no jazz ou no funk tradicional, Allen criou polirritmias complexas, onde cada membro do corpo tocava uma linha independente, formando camadas de groove em constante movimento.

  2. Afrobeat como linguagem universal – A sua colaboração com Fela Kuti, na lendária banda Africa ’70, resultou em álbuns históricos como Zombie, Expensive Shit e Water No Get Enemy.

  3. Influência global – Da música eletrónica ao hip hop, passando pelo jazz contemporâneo, músicos como Damon Albarn (Blur, Gorillaz), Brian Eno, Jeff Mills e até Thom Yorke (Radiohead) reconheceram em Allen uma fonte inesgotável de inspiração.

  4. Carreira a solo – Mesmo após deixar a banda de Fela Kuti, Allen continuou a inovar. A sua discografia inclui trabalhos como Home Cooking (2002) e The Source (2017), onde explorou diálogos entre África, Europa e América.

  5. Pontes culturais – Allen viveu grande parte da sua vida em Paris, tornando-se um verdadeiro embaixador cultural que ligou África ao Ocidente através da música.

 

A Exposição no Museu de Leiria

O ciclo expositivo “Capítulo”, uma iniciativa da CCER MAIS, CRL em co-produção com o Museu de Leiria e co-financiado pela Direcção-Geral das Artes e o Município de Leiria, traz ao público um olhar profundo sobre a trajetória e a influência de Tony Allen.

De 4 de outubro a 30 de novembro de 2025, os visitantes poderão vivenciar um espaço que celebra a energia pulsante de Allen, a sua genialidade como baterista e o impacto duradouro que deixou na música contemporânea.

A exposição inclui:

  • Uma obra inédita de Leonardo Rito – O pintor português foi desafiado a imaginar como seria a capa de um álbum de Tony Allen nos dias de hoje, reinterpretando visualmente o espírito criativo do músico.

  • Um concerto especial – A dupla de percussionistas Vasco Silva e Pedro Marques, representantes da nova geração, explora no dia 19 de outubro a questão: “Como soaria hoje um álbum de Tony Allen?”. Este espetáculo promete trazer para o palco a energia, a inventividade e a alma rítmica que definiram o baterista nigeriano.

 

ony Allen e a Nova Geração de Músicos

Um dos aspetos mais fascinantes da obra de Tony Allen é a sua intemporalidade. O seu estilo, criado há décadas, continua a inspirar músicos das mais diversas áreas: jazzistas, produtores de música eletrónica, rappers, percussionistas e bandas alternativas encontram no seu legado um campo fértil para experimentar.

A escolha de Vasco Silva e Pedro Marques para interpretar esse espírito criativo não é por acaso. Representando a nova geração de músicos portugueses, ambos demonstram como a influência de Allen atravessa fronteiras e ressoa em novas linguagens sonoras.

Assim, a exposição não se limita a um olhar para o passado, mas também aponta para o futuro: o legado de Tony Allen continua vivo, transformando a forma como entendemos o ritmo e a música.

Por que Tony Allen continua a ser relevante hoje?

Para compreender a relevância de Tony Allen em pleno 2025, é importante destacar como o seu legado ecoa na atualidade:

  • Afrobeat no século XXI: Bandas como Antibalas, Seun Kuti & Egypt 80, e artistas como Burna Boy trazem o Afrobeat para novos públicos.

  • Colaborações modernas: O trabalho de Allen com Damon Albarn nos projetos The Good, the Bad & the Queen e Rocket Juice & The Moon mostra como ele se manteve relevante até os últimos anos de vida.

  • Inspiração para produtores de música eletrónica: DJs e produtores veem no groove de Allen uma fonte inesgotável para samplers e remixes.

  • Legado pedagógico: Jovens bateristas continuam a estudar os padrões criados por Allen, que são considerados um verdadeiro manual de criatividade rítmica.

Assim, o nome de Tony Allen não pertence apenas à história — ele é parte ativa do presente e continuará a moldar o futuro.

O Pulsar de Tony Allen no Coração de Leiria

A exposição dedicada a Tony Allen no Museu de Leiria não é apenas uma homenagem a um músico do passado — é a celebração de um legado vivo, que continua a inspirar e transformar a música em todo o mundo.

Com a visão artística de Leonardo Rito e a performance enérgica de Vasco Silva e Pedro Marques, o público é convidado a sentir de perto o ritmo inventivo de um baterista que não se limitou a acompanhar, mas que criou um género musical inteiro.

Tony Allen foi mais do que um músico: foi um revolucionário do ritmo, um criador de universos sonoros que transcendem gerações.

De Leiria para o mundo, o seu pulso continua a marcar o tempo.