Fado Bicha lança disco de estreia, “OCUPAÇÃO”, a 3 de JUNHO

Juntaram-se em 2017, tomando o fado como ferramenta de trabalho. Acrescentaram-lhe o adjetivo bicha: palavra de luta, orgulho e resistência. São Fado Bicha, ou seja, Lila Fadista e João Caçador, e durante cinco anos deram mais de duas centenas de concertos em Portugal e no mundo. “OCUPAÇÃO”, o álbum de estreia da dupla, é o resultado dessa jornada pessoal, artística e política, e será lançado a 3 de junho, em todas as plataformas digitais.

“OCUPAÇÃO” é um álbum que reflete esse posicionamento artístico e político, de autoconhecimento e resgate histórico, artivismo e compromisso, homenagem e reinvenção.  Ao longo de cinco anos trabalharam o desenvolvimento do projeto, dando mais de 200 concertos em Portugal, na Europa e no Brasil, onde o destino as levou a uma festa em casa de Caetano Veloso, a um sarau em casa da atriz e psicanalista Cecília Boal, acabando por chegar aos ouvidos da enorme Elza Soares, recentemente falecida, que lhes fez chegar uma mensagem áudio. 

O álbum é o culminar de toda essa caminhada, assim como condensa dois anos de colaboração com Luís Clara Gomes, mais conhecido como Moullinex, que produz o disco. Reunindo novas canções e releituras de temas que Lila e João cantaram desde o início do projeto, “OCUPAÇÃO” tanto evoca o lado confessional e dramático do fado tradicional, como o reinventa e ressignifica à luz de múltiplos ambientes sonoros e líricos. 

Nesse trabalho de reinvenção contaram com a participação de várias artistas da cena queer portuguesa: Symone de la Dragma, passarumacaco, Labaq e Trypas Corassão (Tita Maravilha e Cigarra) colaboram em voz, instrumentação, co-composição e/ou co-produção; tal como a atriz e ativista trans Alice Azevedo e o jovem poeta Bernardo Araújo fazem aparições em duas faixas do álbum. Há uma composição que foi partilhada com Adriano Cintra, ex-músico da banda brasileira Cansei de Ser Sexy, e também fados clássicos de Alfredo Marceneiro ou Frederico Valério, com novos arranjos e leituras conceptuais. Das doze faixas, sete são composições inteiramente originais e nove têm letras originais. 

Liricamente, o álbum percorre alguns lugares associados a uma experiência queer em Portugal no século XXI. Homenageia várias figuras da precária ancestralidade queer, como Valentim de Barros (em “Requiem para Valentim”) ou Gisberta Salce (em “Medusa-me”), e da nossa comunidade viva, como a ativista Alice Azevedo (em “Fado Alice”). É um álbum de crítica mordaz à masculinidade tóxica (“Crónica do maxo discreto” ou “Medusa-me”), aborda as dores e dissabores das identidades bichas num mundo de rejeição (“De costas voltadas” ou “Fado do ciúme”) e ensaia hinos de afirmação e recuperação do lugar de subalternidade (“Lila Fadista” ou “Fogo na casa”). Num país de tradição patriarcal e colonial, temas como “ESTOURADA”, “Fado Ribeiro Santos” e “Povo pequenino” oferecem chaves de leitura poética do passado e presente de Portugal que traduzem a frustração de Lila e João com a incapacidade coletiva de se pensar a liberdade como uma prática necessariamente diária e desconfortável.
 
“OCUPAÇÃO” é também a celebração da trajetória e do futuro desta dupla que decidiu tomar conta do seu destino, e não esperar que mais ninguém falasse em seu nome.
 
Razões fortes, todas elas, para agora se escutar “OCUPAÇÃO”, seu disco de estreia que Lila e João gostam de pensar como “um manual de sobrevivência queer em forma de música e discurso, com muito da dor, do luto, da exaltação e da luta que fazem parte das vidas das pessoas LGBTI em Portugal em 2022.”  Vamos a isso?