O compositor e contrabaixista André Carvalho apresenta em Lisboa o seu mais recente trabalho, Of Fragility and Impermanence, num concerto integrado na Festa do Jazz, no Centro Cultural de Belém, no dia 21 de dezembro. Depois da estreia discográfica em novembro, o espetáculo marca a primeira oportunidade para o público lisboeta mergulhar ao vivo neste universo sonoro de rara sensibilidade e profundidade emocional.

A crítica nacional não tardou em reconhecer o impacto desta nova obra. Gonçalo Frota (Público) escreveu que André Carvalho “interpreta com magnífica sensibilidade uma partitura que está não apenas nas pautas, mas também nas histórias que a música pretende contar e nos estados que se propõe atingir”. Uma leitura que sublinha o caráter imersivo e narrativo de um projeto que desafia as fronteiras entre géneros, fundindo jazz, música erudita contemporânea e paisagens de experimentação sonora.
A fragilidade como matéria sonora
Of Fragility and Impermanence nasce de uma reflexão sobre a vulnerabilidade e a passagem do tempo. É uma obra construída a partir de temas universais — a perda, a memória, a transformação e o efémero. Cada composição funciona como uma meditação individual, revelando diferentes facetas da condição humana.
Nas palavras do compositor, o disco procura “dar espaço ao silêncio, à pausa e à escuta interior”, algo que também se reflete na interpretação do quinteto que o acompanha em palco: José Soares (saxofone), Raquel Reis (violoncelo), Samuel Gapp (piano) e João Hasselberg (eletrónica). O resultado é um conjunto coeso e expressivo, onde a escrita minuciosa de Carvalho se entrelaça com momentos de improvisação subtil, permitindo que a emoção e o risco convivam em harmonia.
A crítica descreve o álbum como um trabalho de rara abstração e lirismo. Frota refere que é “uma música notavelmente abstrata, a meio caminho entre o jazz e a criação erudita contemporânea, procurando silêncios e vazios”. Cada gesto instrumental parece respirar por si, transformando o som em matéria poética e o silêncio em elemento estruturante da narrativa musical.
Um percurso singular e uma voz em expansão
Com este novo trabalho, André Carvalho consolida-se como uma das vozes mais consistentes e inovadoras da música contemporânea portuguesa. O contrabaixista tem construído um percurso marcado pela coerência estética e pela curiosidade criativa, explorando constantemente novas linguagens e colaborações.
O crítico Pedro Ribeiro (Música.com.pt) definiu Of Fragility and Impermanence como “uma obra que se revela a cada audição” e “um dos discos mais interessantes do ano”, destacando a maturidade artística do compositor. Já Dave Sumner, no site Best Jazz on Bandcamp, sublinha a capacidade de Carvalho em transformar ideias abstratas em emoção pura: “There’s an ebb and flow to the music, where harmonic swells break into thin rivulets of melody cascading earthward. The presence of the music is palpable, even at its most introspective. It’s a stunning work.”
Estas leituras, nacionais e internacionais, revelam um reconhecimento crescente do trabalho de André Carvalho, que tem sabido afirmar a sua identidade entre o rigor da composição e a liberdade da improvisação.
Entre o cinema e a música: novas distinções
O sucesso de Of Fragility and Impermanence chega num momento em que o compositor também colhe frutos no universo cinematográfico. André Carvalho venceu o prémio Best Original Music no Planos Film Fest pela banda sonora da curta-metragem Atom & Void, realizada por Gonçalo Almeida.
O filme conquistou ainda os prémios de Melhor Curta Nacional e Melhor Edição, e foi selecionado para vários festivais internacionais de referência, entre eles Sitges, La Roche-sur-Yon e o Paris International Fantastic Film Festival 2024, onde recebeu o Shadowz Award for International Short Film. Seguiram-se novas distinções, como a Honorable Mention no Fantastic Fest 2024 (EUA) e a Special Mention no Festival Fantasmagoria Medellín 2024 (Colômbia).
Além disso, Atom & Void está nomeado para Melhor Música Original no Shortcutz Lisboa, cuja decisão será conhecida em dezembro. Este percurso reforça a versatilidade do compositor e a sua crescente visibilidade no cruzamento entre música e imagem, áreas onde Carvalho demonstra uma notável capacidade de construir atmosferas psicológicas e emocionais.
Datas e continuidade
Após a estreia no CCB a 21 de dezembro, André Carvalho continuará a apresentar o projeto em várias salas portuguesas:
28 de fevereiro de 2026 – BOTA Anjos, Lisboa
17 de junho de 2026 – Tasca das Artes, Lisboa
18 de junho de 2026 – Teatro Municipal de Bragança
Cada concerto promete uma experiência imersiva, onde a escuta é tão importante quanto o gesto e o silêncio.
Um convite à contemplação
Of Fragility and Impermanence não é apenas um álbum, mas um exercício de vulnerabilidade e consciência. É música que respira, hesita e se transforma, convidando o público a refletir sobre o que é passageiro e o que permanece.
Através da subtileza e da atenção ao detalhe, André Carvalho oferece ao ouvinte um espaço de contemplação — uma pausa no ruído do quotidiano. E é precisamente nesse território de fragilidade e impermanência que o compositor encontra a sua força criativa, afirmando-se como uma das presenças mais relevantes da nova música portuguesa.

















