Leonor Arnaut, conhecida pela sua versatilidade artística e pela presença cada vez mais firme no panorama musical português, apresenta agora “Vida Cega”, o seu primeiro single em nome próprio.

O lançamento, já disponível através da CANTO, editora fundada por Sérgio Hydalgo, assinala o início de uma etapa criativa que a artista vinha preparando cuidadosamente ao longo dos últimos anos. Entre Lisboa, Copenhaga, Nova Iorque e Los Angeles, a música ganhou forma num processo global que reflete a amplitude estética e emocional do tema.
“Vida Cega” emerge como uma canção de mudança, de descoberta e de confronto interior. A própria artista descreve o single como um território onde se cruzam sonho e realidade, espiritualidade e quotidiano, dúvida e impulso. É nessa fronteira sensorial e simbólica que a composição se instala, desenhando uma reflexão sobre momentos decisivos, sobre renascimentos silenciosos e sobre o instinto que guia escolhas marcantes. A letra, com imagens poéticas e atmosfera líquida, reforça esse universo introspectivo, especialmente nos versos que evocam a procura de clareza em tempos de incerteza:
“Talvez no instante da sede
Dê para encontrar algum mar
Deitar na nuvem do adeus
Viver no sonho do agora”
Este primeiro avanço a solo mostra uma artista alinhada com um pensamento musical amplo, que não teme cruzar influências nem explorar novas paisagens sonoras. Gravado parcialmente nos Estúdios Cuca Monga, com Gonçalo Bicudo e Domingos Coimbra, “Vida Cega” beneficia do ambiente criativo daquela que é uma das casas mais relevantes da música independente portuguesa. Mas o percurso da canção foi mais longe. Em Nova Iorque, nos Gary’s Electric Studio B, Leonor trabalhou com Al Carson, produtor responsável pelo mais recente álbum de Jessica Pratt, acrescentando ao tema uma dimensão textural que dialoga com o folk contemporâneo e com estéticas experimentais de matriz americana.
A participação de músicos como Margarida Campelo (sintetizadores), Teresa Castro (guitarra), Ricardo Dias Gomes (baixo) e João Pereira (bateria) contribui para a profundidade do arranjo, reforçando a personalidade sonora da faixa. Cada instrumento parece ocupar um espaço cuidadosamente pensado, equilibrando delicadeza e tensão. O resultado é um ambiente etéreo, mas firme, onde a voz de Leonor conduz a narrativa de forma íntima, quase confessional.
A nível técnico, a canção evidencia um trabalho meticuloso: composta e produzida pela própria Leonor Arnaut em parceria com Magnus Kudsk, misturada por Miguel Nicolau e Magnus Kudsk e masterizada por Hugo Valverde. A produção aposta numa estética minimalista, mas profundamente emocional, em que pequenas camadas sonoras se acumulam subtilmente, dando corpo a uma atmosfera que se entranha no ouvinte. Essa construção sensorial faz de “Vida Cega” um single que se revela aos poucos, convidando a escutas repetidas.
Também o videoclipe reforça esta identidade. Gravado em Los Angeles por Kai MacKnight e realizado em conjunto com Leonor Arnaut, o vídeo acompanha visualmente a temática da canção, desenhando uma espécie de viagem interior através de imagens luminosas, movimentos lentos e paisagens que espelham a sensação de transição. A realização aposta na simplicidade poética, permitindo que o olhar da artista e a narrativa visual se encontrem num diálogo orgânico.
“Vida Cega” apresenta-se, assim, como o ponto de partida para um novo ciclo na carreira de Leonor Arnaut, afirmando-a enquanto compositora, produtora e intérprete de visão singular. O single coloca-a numa rota que combina introspeção com maturidade estética, revelando a confiança de quem encontrou um caminho próprio e está pronta para explorá-lo.
A escolha da CANTO como editora para esta estreia sublinha ainda mais o posicionamento artístico do projeto. Fundada por Sérgio Hydalgo, a CANTO tem vindo a destacar-se pelo cuidado editorial e pelo apoio a artistas que procuram liberdade criativa. O lançamento de “Vida Cega” surge como um passo natural numa colaboração que potencia a autenticidade e a ambição de Leonor Arnaut.
Para além do seu valor artístico, o single tem potencial para marcar o panorama musical nacional ao destacar uma nova voz que se move entre a contemporaneidade e o lirismo, com uma sensibilidade rara. Ao mesmo tempo, demonstra uma capacidade de diálogo com sonoridades internacionais, fruto do percurso geograficamente disperso da gravação e da produção. Essa transversalidade pode ser determinante para o crescimento da artista, tanto em Portugal como fora dele.
Com “Vida Cega”, Leonor Arnaut oferece um primeiro capítulo que abre portas a um futuro promissor. A canção apresenta uma autora consciente da sua identidade e do que deseja comunicar, capaz de unir delicadeza e intensidade numa obra que se afirma pela sinceridade e pela profundidade emocional. Num momento em que a música portuguesa continua a reinventar-se, este lançamento chega como a promessa de uma nova voz que merece atenção. Ligada à música e à cultura, Leonor Arnaut dá início a uma caminhada a solo que promete deixar marca.


















