O que fazer quando se fica com uma música presa na cabeça?

Ficar com uma música presa na cabeça é uma experiência quase universal. Às vezes é um refrão insistente, outras vezes é apenas uma melodia fragmentada que regressa repetidamente ao pensamento sem convite. A ciência chama-lhe earworm, mas todos sabemos que, na prática, pode ser divertido, estranho ou até um pouco irritante quando não conseguimos identificar de onde vem a tal música. É justamente a partir deste fenómeno tão comum que nasce “O rei com música na cabeça”, o primeiro livro infantojuvenil do maestro Martim Sousa Tavares, agora publicado pela Porto Editora.
A obra, já em pré-venda, chega às livrarias no dia 6 de novembro e será apresentada numa sessão muito especial na Galeria da Biodiversidade — Centro Ciência Viva, instalada na Casa Andresen, no Jardim Botânico da Universidade do Porto. A data não foi escolhida ao acaso: marca o aniversário da avó do autor, Sophia de Mello Breyner Andresen, uma das figuras maiores da literatura portuguesa. O gesto simbólico reforça a ligação profunda entre gerações e celebra a continuidade da criatividade no seio da família.
Uma história que começa com uma nota perdida
No seu primeiro livro dedicado ao público mais jovem, Martim Sousa Tavares apresenta-nos um monarca austríaco que, certo dia, acorda com uma melodia presa na cabeça. O problema? Não sabe de onde veio, nem consegue completá-la. Esta pequena falha transforma-se num enorme contratempo. O rei torna-se incapaz de se concentrar nos assuntos do reino e a rotina governativa rapidamente descarrila. Tudo porque a música insiste em regressar, incompleta, como um puzzle com uma peça em falta.
Este é o ponto de partida para uma narrativa que combina humor, aventura e uma abordagem leve e acessível ao vasto universo musical. A pergunta que guia toda a trama é simples, mas irresistível: qual será afinal a música que atormenta o rei? E, sobretudo, como recuperar a nota perdida que falta para resolver o mistério?
Um livro que junta a música, a infância e o encanto da descoberta
“O rei com música na cabeça” é uma história concebida para leitores de todas as idades. Embora se destine ao público infantojuvenil, o livro oferece múltiplos níveis de leitura. As crianças encontram nele uma aventura divertida, marcada por personagens carismáticas, situações caricatas e uma boa dose de imaginação. Já os adultos podem reconhecer referências subtis à tradição musical europeia, ao quotidiano das cortes austríacas e ao papel da música na construção da identidade cultural.
Um dos aspetos mais interessantes da obra é a presença dos irmãos Mozart, que surgem como personagens dentro do enredo. Através deles, o leitor mais jovem é convidado a descobrir quem foram Wolfgang Amadeus Mozart e Maria Anna Mozart, figuras essenciais na história da música. A narrativa abre, assim, uma porta para a curiosidade e estimula a vontade de aprender mais sobre compositores, obras e o contexto cultural da época.
Martim Sousa Tavares: da batuta à literatura
A estreia de Martim Sousa Tavares como autor infantojuvenil não surpreende quem acompanha o seu percurso. Maestro, divulgador cultural e comunicador nato, tem-se destacado pela capacidade de traduzir a música clássica para novas audiências, explicando-a com clareza, paixão e sentido de humor. O livro funciona como extensão natural desse trabalho, transportando para a ficção o entusiasmo com que sempre abordou o universo musical.
Ao transformar um fenómeno tão quotidiano — ter uma música presa na cabeça — numa aventura literária, o autor consegue captar a atenção de leitores que talvez nunca tenham explorado o repertório clássico. Através da ficção, cria-se um ponto de entrada lúdico e acessível para um mundo que muitas vezes parece distante.
Uma obra que celebra a cultura e reforça ligações afetivas
A apresentação de “O rei com música na cabeça” na Casa Andresen reveste-se de especial significado. A escolha da data, assinalando o aniversário de Sophia de Mello Breyner Andresen, funciona como homenagem à herança literária da família e como gesto de continuidade simbólica. O espaço, ligado à ciência e à biodiversidade, oferece ainda um cenário particularmente inspirador, onde arte e conhecimento se cruzam naturalmente.
Este livro surge, portanto, não apenas como um objeto literário, mas também como expressão de um percurso pessoal, cultural e afetivo que se prolonga entre gerações. É uma celebração da criatividade, da curiosidade e da importância de aproximar as crianças do universo artístico desde cedo.
Um convite à imaginação e à música
Com linguagem clara, ritmo envolvente e ilustrações que prometem cativar os leitores mais novos, “O rei com música na cabeça” destaca-se como uma obra que une humor, fantasia e educação musical. Através do mistério da melodia incompleta, as crianças são convidadas a explorar o mundo das notas, dos sons e das histórias que a música pode inspirar.
Fica o convite para descobrir esta aventura que começa com uma simples nota perdida e se transforma numa viagem encantadora por um reino onde tudo parece possível. Afinal, quem nunca ficou com uma música na cabeça?


















