A música é, há muito, uma das formas mais completas de expressão humana — e, em Portugal, os leitores mostram-se cada vez mais interessados em conhecê-la para além dos palcos e dos auscultadores.

Nos últimos anos, o mercado editorial português tem registado um crescimento constante nas obras dedicadas à música: biografias de ícones, memórias de artistas, estudos de história musical e até manuais práticos de instrumento.
Entre 2021 e 2025, as livrarias FNAC, Bertrand e Wook revelaram um padrão claro: os títulos que unem vida, som e narrativa são os que mais conquistam o público.
O fenómeno das biografias musicais
Na linha da frente dos livros de música mais vendidos em Portugal estão as biografias e memórias — obras que expõem o lado humano das lendas do palco.
O destaque vai para The Storyteller – Histórias de Vida e de Música, de Dave Grohl (Marcador), uma autobiografia vibrante onde o líder dos Foo Fighters e ex-baterista dos Nirvana mistura anedotas de estrada com reflexões sobre criação e resistência.
Logo a seguir surge Surrender: 40 Canções, Uma História, de Bono (Dom Quixote), um livro confessional em que o vocalista dos U2 revisita a sua vida através das letras e da fé. Ambas as obras mostram que o público português quer mais do que bastidores — quer empatia, vulnerabilidade e, claro, boa escrita.
Outro destaque é As Letras, de Paul McCartney, que se tornou rapidamente uma das edições mais procuradas entre fãs dos Beatles e leitores curiosos.
Organizado como uma antologia de memórias através das canções, o livro revela os bastidores criativos do maior catálogo pop do século XX. A longevidade nas tabelas de vendas confirma o fascínio que o nome “McCartney” ainda exerce sobre o imaginário coletivo.
Música portuguesa também conquista prateleiras
Não é só o estrangeiro que vende. A música portuguesa continua a gerar livros de peso, com o fado, o rock e a canção de autor como protagonistas.
Amália: A Biografia, de Vítor Pavão dos Santos, permanece um clássico. Publicada há mais de duas décadas e constantemente reeditada, a obra é uma referência incontornável sobre a vida da maior voz nacional.
Nos últimos anos, títulos dedicados a Sérgio Godinho, Rui Veloso ou Zeca Afonso também têm ganho visibilidade, reforçando o interesse em compreender a identidade sonora portuguesa através da palavra escrita.
O público mais jovem, habituado ao consumo rápido de streaming, parece encontrar nestas biografias uma forma mais profunda de contacto com os artistas — uma leitura que complementa a escuta e reaviva a ligação emocional com a música portuguesa.
Entre a teoria e a prática: livros para quem faz música
O segundo segmento em destaque nos livros de música mais vendidos em Portugal é o dos guias e métodos.
Títulos como Guitarra para Totós continuam entre os mais comprados, sobretudo por iniciantes que procuram uma aprendizagem autodidata.
Outros volumes técnicos, como Teoria do Jazz e Sistemas e Técnicas de Produção Áudio, têm tido boas vendas entre músicos e produtores independentes que procuram reforçar competências em casa.
Esta procura reflete uma tendência cultural clara: a democratização da produção musical. Com estúdios domésticos cada vez mais acessíveis, os leitores procuram livros que sirvam de apoio ao seu próprio processo criativo. As editoras portuguesas começam a responder, apostando em traduções e novos títulos dedicados à técnica e à composição moderna.
História, crítica e o prazer de entender o som
Nem só de biografias vive o género. Livros de divulgação e história musical, como Uma Pequena História da Música (Robert Philip, Edições 70), continuam a vender bem.
A obra condensa séculos de evolução sonora, da música medieval ao jazz, e aparece regularmente nos destaques da Bertrand e da Wook.
Outro caso curioso é John & Paul: Uma História de Amor Feita de Canções, de Ian Leslie, que combina psicologia, crítica musical e história pop — um exemplo de como a crítica musical bem escrita continua a ter público fiel em Portugal.
Estes títulos ajudam a manter viva a dimensão reflexiva da música, oferecendo aos leitores a possibilidade de compreender contextos, estilos e influências de forma acessível.
Os clássicos que nunca saem de moda
Entre os livros mais vendidos nas secções de música, há sempre espaço para os “clássicos eternos”.
O The Beatles – Complete Chord Songbook, editado pela Hal Leonard, é um exemplo: um songbook que atravessa gerações e continua a ser uma das obras mais compradas por guitarristas e fãs da banda de Liverpool.
O mesmo acontece com coletâneas de letras e poemas de Jim Morrison, que permanecem entre os títulos mais procurados — uma prova de que a poesia rock mantém o seu poder mítico, mesmo meio século depois.
O futuro da leitura musical
A ascensão dos livros de música mais vendidos em Portugal revela um fenómeno interessante: a convergência entre escuta e leitura.
Num mundo onde a música é cada vez mais digital, efémera e imediata, o livro surge como refúgio e contraponto — um espaço de pausa e reflexão.
Editoras e livrarias começam a perceber isso, apostando em curadoria e eventos que cruzam música ao vivo e literatura.
Ao mesmo tempo, o público leitor de música tornou-se mais diverso. Há quem procure biografias emocionais, quem queira dominar escalas de jazz, e quem deseje compreender o porquê de certas canções mudarem o mundo.
Portugal segue esta tendência internacional, demonstrando que a música, em papel, continua viva, vibrante e com novos públicos a descobrir-lhe o ritmo nas livrarias.
Descobre os livros de música mais vendidos em Portugal: biografias, manuais e obras que unem som e palavra. De Dave Grohl a Amália, uma viagem pela leitura musical que inspira melómanos e músicos.
A literatura musical não é apenas uma extensão da música — é o seu eco mais profundo.
Porque cada página pode soar como um acorde, cada memória pode transformar-se em canção.
Liga-te à música, vive a cultura.


















