O ano de 2025 marca um momento especial para os sUBMARINe, a dupla de Vila Nova de Famalicão que há 25 anos vem navegando entre estilos e atmosferas, desafiando rótulos e criando um percurso único no panorama alternativo português. De “World Flavours” a “Spaces & Places”, dos palcos da Antena 3 às rádios internacionais, Jorge Humberto e Luís Ribeiro constroem uma história onde a eletrónica, o trip-hop, o dub e o rock coexistem em perfeita harmonia.

Em 2025 celebram 25 anos de carreira. Quando olham para trás, qual foi o momento que mais definiu o percurso dos sUBMARINe?
Houve vários, mas talvez o mais marcante tenha sido perceber muito cedo que a nossa identidade vinha da mistura. Não éramos uma banda de trip-hop, nem de dub, nem de lounge, nem de rock alternativo. Éramos tudo isso ao mesmo tempo. O concerto transmitido pela Antena 3, nos primeiros tempos, abriu-nos portas e mostrou-nos que havia espaço em Portugal para um projeto híbrido, sem rótulo fixo. Esse reconhecimento ajudou-nos a confiar no caminho.
O vosso som começou no trip-hop e dub, evoluindo depois para algo mais orgânico e próximo do rock alternativo. Essa mudança foi natural ou planeada?
Foi absolutamente natural. À medida que crescíamos como músicos e como pessoas, o som também ganhava camadas. Ao vivo sentíamos necessidade de mais energia, mais textura, mais corpo. As guitarras e a bateria foram entrando quase como uma resposta física ao palco, à vontade de fazer o público mexer-se. Nunca foi uma estratégia calculada, foi uma evolução natural.
O EP World Flavours, de 2002, foi considerado um dos melhores do ano. Sentiram, naquela altura, que estavam a abrir caminho para uma nova estética na música portuguesa?
O que sentimos foi que estávamos a propor algo diferente num país que ainda não tinha grande tradição na fusão entre eletrónica, dub e pop alternativa. Não pensámos em “abrir caminho”, mas percebemos pelas reações que havia curiosidade. A eletrónica portuguesa estava à procura de novas formas, e nós fazíamos parte dessa procura.
O álbum Spaces & Places é hoje visto como uma referência no cruzamento entre eletrónica e lounge em Portugal. Que memórias guardam desse período?
Foi uma fase de enorme liberdade criativa. Passávamos horas a experimentar texturas, samplers, sintetizadores, delays, beats mais lentos e ambientes cinematográficos. Tínhamos tempo e paciência para construir paisagens sonoras. Foi também o momento em que sentimos maior eco fora de Portugal: rádios independentes, blogs internacionais e pessoas que nos descobriam por acaso, através do Myspace. Spaces & Places foi o nosso disco mais “urbano-calmo”, talvez o mais elegante.
The Next Album marcou uma viragem mais crua e urbana, com guitarras mais presentes. Foi um reflexo da vossa evolução pessoal ou da vontade de desafiar o público?
Um pouco dos dois. Depois de Spaces & Places, sentíamos que estávamos demasiado confortáveis. Queríamos voltar a sujar as mãos, a ter beats mais secos, linhas de baixo mais diretas e uma maior sensação de urgência. O ritmo do dia a dia, o trânsito, os concertos e os contrastes influenciaram esse disco. Foi um álbum de afirmação e, ao mesmo tempo, de rutura.
Ao longo dos anos, contaram com o apoio da Antena 3 e até de rádios internacionais. O que representou esse reconhecimento para o projeto?
Representou uma validação não comercial, mas artística. Quando DJs lá fora passam a tua música sem te conhecerem, é porque ela lhes tocou. E isso, para nós, foi sempre mais importante do que números. Sentimos que não estávamos a fazer música “local”, mas música que podia circular livremente.
Voltaram agora aos palcos e aos discos. O que podem revelar sobre o novo material? Há continuidade estética ou uma nova direção sonora?
Há continuidade na atitude, mas não no som. Estamos a explorar ritmos mais quebrados, sintetizadores mais analógicos e vozes mais texturadas. É como se juntássemos o ambiente de Spaces & Places com a energia de The Next Album, mas com a maturidade de quem já viveu bastante. O novo material tem luz e sombra, como sempre, mas está mais denso e mais humano.
Nos vossos concertos, a componente visual sempre foi muito cuidada. Mantêm essa aposta na fusão entre imagem e som nesta nova fase?
Mais do que nunca. A estética visual sempre fez parte do ADN dos sUBMARINe. Agora queremos incorporar vídeo generativo, luz programável e visuais que respondem ao som em tempo real. A música sempre foi imagem e agora queremos que a imagem também seja música.
Como é revisitar temas de há duas décadas num contexto musical tão diferente? Que emoções vos traz tocar “About You and Me” ou “You Can Get Up and Dance” hoje?
É como abrir uma caixa de cartas antigas. Há nostalgia, mas também surpresa, porque eu e o Luís assumimos instrumentos que, há 20 anos, não tocávamos. Descobrimos detalhes, linhas de baixo que hoje soam de forma diferente, frases que só agora fazem sentido. Acrescentámos à banda o João Robim, que entrou para a bateria, mas é um multi-instrumentista notável. Trabalha connosco ao vivo e em estúdio, e representa essa nova geração de que falávamos. Quando tocamos esses temas, é como se o passado e o presente se abraçassem.
Sentem que o público nacional está hoje mais aberto à vossa linguagem?
Sem dúvida. O público português está mais habituado à mistura, à eletrónica com identidade, ao experimental e ao alternativo. O que antes era “de nicho” hoje é simplesmente música. E isso é libertador.
Como veem a nova geração de artistas e a forma como o digital transformou a relação entre músico e público?
Vemo-la como a geração mais livre de sempre. O digital eliminou intermediários, permitiu experimentar e publicar sem medo, mas também trouxe excesso e ruído. O desafio agora é manter a autenticidade num mar de estímulos. Ainda assim, a criatividade que vemos é, a espaços, inspiradora.
Depois de 25 anos de percurso, o que ainda vos motiva a continuar a criar e a subir ao palco? Que mensagem gostariam de deixar aos ouvintes neste regresso?
Motiva-nos a curiosidade, a vontade de saber como soamos amanhã. E motiva-nos o público, sobretudo quem nos acompanhou desde o início, quem nos descobriu entretanto e aqueles que já não estão entre nós. Se há uma mensagem, é esta: obrigado por ouvirem, obrigado por estarem. Continuamos.

















